Porque os generais controlam os diamantes? - Domingos da Cruz
Luanda - A questão que
dá título a presente análise, remete a consciência colectiva ao problema
da “memória histórica comum”, do recente conflito militar entre a UNITA
e o MPLA. Enquanto o partido opressor controlava o petróleo, a UNITA
tinha sob sua tutela os diamantes de sangue, uma fonte fundamental para
manter o seu “Estado Paralelo” nas regiões sob seu domínio durante o
conflito e para suprir parte das suas despesas militares, conjugado com o
apoio dos seus parceiros externos com destaque para EUA.
Para
além da perda de apoios internacionais para UNITA e seu Chefe, Jonas
Savimbi, um factor que colocou o seu contendor em vantagem no teatro das
operações militares. Que factos adicionais influenciaram a motivação
das FAA e dos seus generais para tamanha determinação nunca antes vista
no conflito antes de 1999?
Indicadores
permitem perceber que Eduardo dos Santos, bem assessorado por serviços
secretos internacionais e lobistas, recomendaram como estratégia
infalível, a oferta do sector dos diamantes de forma expressa aos
generais com dois fins: 1. neutralizar (talvez a maior fonte financeira
da UNITA) com o fim de o enfraquecer; 2. Criar uma motivação externa
real para os generais a fim de dedicarem-se na guerra, não mais com
simples sentimento de defesa da pátria, mas sim como potenciais ricos,
que daquele momento em diante deixariam de ter acesso aos diamantes
graças alguns negócios secretos com a UNITA em troca de armas e
combustível. Uma questão importante a ser colocada aqui é: nesta época,
nas FAA havia também generais provenientes da UNITA. Como foram
encaixados nesta estratégia? Os consultores recomendaram à Eduardo dos
Santos para que os generais provenientes da UNITA não fossem colocados
nas frentes combativas sob pena de traições que poderiam inviabilizar a
concretização do fim último: a morte de JS. Assim sendo, no quadro da
mesma lógica dos consultores de guerra, os generais com génesis na UNITA
foram acomodados em gabinetes mas com grandes somas em dinheiro, para
além do que lhes é de direito. Fontes indicam que muitos encontravam
dinheiro e perguntavam tudo isto saiu aonde? - É seu! Ou usa ou queima
você é que sabe! Parece ficção não?
Durante a guerra os generais centraram as atenções nas zonas diamantíferas. Quando retomadas à favor das FAA faziam questão de usar os soldados para extrair diamantes de forma artesanal e contavam com a participação de inúmeros cidadãos da RDC e civis recrutados que trabalhavam como escravos e muitos perderam as suas vidas. Combustível para as FAA era desviado para pôr as dragas e outros equipamentos a funcionar à fim de alcançarem as pedras preciosas.
Com a morte de JS em 2002, continuou a autorização para a extracção em favor dos chefes militares. Se durante o conflito o propósito era neutralizar a UNITA e motivar os chefes militares, após o conflito a continuidade deste quadro visa a manutenção do poder, sua segurança pessoal e da sua família. JES doou aos generais somente zonas diamantíferas? Não. Neste momento os generais de tempo em tempo são comunicados que na conta “caiu” mais petrodólares avaliados em milhões.
Um general confidenciou dizendo o seguinte: “vocês da sociedade civil não compreendem. Colocam-nos todos no mesmo grupo de delinquentes e gatunos, mas na verdade muitos de nós somos feitos ricos sem querer.” Só um ingénuo acredita neste general não? Se você não concorda com o dinheiro que te é dado não usa.
Diante desta humilhação de todo um povo e uma nação, o que resta fazer para travar isto?
Existem ingénuos que acreditam numa hipótese ficcional, segundo a qual, um dia Eduardo dos Santos convocará todos os seus subordinados e familiares e dirá: “stop! Daqui para diante não roubaremos mais; não faremos mais fraude; não mataremos mais os de opinião contrária, evitemos todos os males contra este povo.” Nunca acontecerá isto! A humilhação continuará se não formos à rua como no Egipto ou na Tunísia.
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